quinta-feira, 28 de agosto de 2008

GRANDES MULHERES

Francisca da Silva de Oliveira

A verdadeira história de Chica da Silva traça o perfil de uma mulher de personalidade e líder feminina, algo difícil em uma época marcada pela discriminação, primeiramente por ser mulher, e principalmente negra em um país escravocrata.Chica era uma das poucas escravas que sabia ler e escrever. Supõe-se que seja filha de um senhor com uma escrava. Foi libertada a pedido do contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira. Dificilmente continuaria escrava, pois morava na Vila do Príncipe, com o presidente do Senado da Câmara, com o qual já se encontrava junto antes do contratador.Tinha o poder de dominar os poderosos com toda a sua astúcia, era considerada uma autêntica mineira. Era conhecida como Chica que manda, pois todos os favores pedidos ao contratador teriam que passar pelo seu crivo.Viveu e morreu no Arraial do Tijuco, atual distrito de Diamantina (MG).A autenticidade de Chica também marcou a sua história, não apenas pelo seu poder de conquista e de mando que exercia sobre seus amantes, mas soube aproveitar as oportunidades em benefício dos seus desejos e excentricidades, por exemplo: castelo em estilo medieval em sua Chácara da Palha; ia à igreja coberta de diamante e acompanhada por doze mucamas ricamente vestidas; usava cabeleira anelada cobrindo sua cabeça raspada; tinha um pequeno navio para navegar no mar que mandou construir; era considerada uma patrocinadora da arte, afinal o único teatro permitido era de sua propriedade; banda de música à sua disposição; duas capelas; jardim de plantas exóticas importadas, cascatas artificiais, fontes, tanques para pescaria, etc.Logo após sua alforria já era proprietária de um sobrado e alguns escravos, demonstrando que procurava inserir-se no mundo livre do arraial, incorporando seus costumes e adquirindo os necessários para se fazer respeitada. Chica seguia atentamente todos os hábitos das senhoras da elite mineira.Seus desejos eram uma ordem. Os melhores lugares nos templos eram reservados para ela. A nobreza do Arraial do Tijuco e até mesmo os visitantes curvavam-se e beijavam a sua mão.Chica era uma mãe muito zelosa e presente e reforçou os seus cuidados quando seu marido voltou a Portugal, para prestar contas à coroa. Teve treze filhos, 9 mulheres e 4 homens, educou suas filhas no Recolhimento de Macaúbas, melhor educandário da região, reservado apenas para moças ricas; também teve um filho seminarista que mais tarde tornou-se padre. Uma das coisas que mais a incomodava era o preconceito sofrido por suas filhas, que não poderiam ocupar cargos de importância na comunidade e nem usar véu branco. Afirmavam que não tinham sangue puro. Com isso, Chica as tirou do convento, encaminhando-as para outros lugares que achava conveniente.O mito se popularizou em nossos dias. Chica é conhecida como uma mulher imoral que usava da sua sensualidade para conseguir as regalias que queria. Isto nada mais é do que o resultado de um dos estereótipos do papel da mulher negra na sociedade colonial, sendo este construído pelos próprios historiadores, a partir do século XIX. Chica apareceu como personagem histórica pela primeira vez nos textos de Diamantina, publicados pelo jornal O Jequitinhonha. Depois reunidos nos livros Memórias do Diamantina, onde mais uma vez sua imagem foi deturpada.Sua trajetória foi de luta para tentar diminuir o estigma que a cor e a escravidão lhe impuseram.Faleceu no dia 15 de fevereiro de 1796, no Arraial do Tijuco. Foi enterrada na Igreja de São Francisco de Assis, irmandade reservada para elite branca do arraial. O cortejo foi acompanhado até à sepultura por todas as irmandades a que pertencia. De acordo com suas disposições testamentárias, foram rezadas 40 missas para sua alma na igreja das Mercês, que reunia os pardos e mulatos.

CLEMENTINA DE JESUS


Nasceu em 07 de fevereiro de 1898 na cidade de Valença, interior do Rio de Janeiro. Mudou-se com a família para a capital do estado, radicando-se no bairro de Oswaldo Cruz. Lá acompanhou de perto o surgimento e desenvolvimento da escola de samba Portela, freqüentando desde cedo as rodas de samba da região. Em 1940 casou-se e mudou para a Mangueira.Trabalhou como doméstica por mais de 20 anos e, sem conseguir espaço para exercer sua arte, animava festinhas em casa de amigos. Somente aos 60 anos Clementina iniciou sua carreira como cantora profissional, enfrentando inúmeros obstáculos enquanto mulher, negra e pobre. "Descoberta" pelo compositor Hermínio Bello de Carvalho em 1963, participou do show "Rosa de Ouro", que rodou algumas das capitais mais importantes do Brasil e virou disco pela Odeon, incluindo, entre outros, o jongo "Benguelê".Clementina de Jesus inspirou compositores famosos, que a consideram a grande mãe da nossa cultura. Ensinou a muitos, cantigas populares do início do século, sendo que inúmeras delas foram gravadas. Em 1968, com a produção de Hermínio Bello de Carvalho, registrou o histórico LP "Gente da Antiga" ao lado de Pixinguinha e João da Bahiana. Gravou quatro discos solo (dois com o título "Clementina de Jesus", "Clementina, Cadê Você?" e "Marinheiro Só") e fez diversas participações, como nos discos "Rosa de Ouro", "Cantos de Escravos" e "Milagre dos Peixes", de Milton Nascimento, em que interpretou a faixa "Escravos de Jó". Apesar de feito muito pela preservação das nossas raízes, e ser considerada a primeira dama da MPB, Clementina viveu modestamente de uma pequena pensão do INSS e de outra que recebia do governo do Rio de Janeiro.TINA ou QUELÉ, morreu em julho de 1987 aos 85 anos de idade, deixando uma única filha, nove netos, nove bisnetos e cinco tataranetos.

DANDARA

O seu nome significa "a mais bela" ( ?-06/02/1694 )
Segundo a tradição oral, ela foi a primeira e única mulher de Zumbi dos Palmares e com ele teve três filhos. Dandara foi uma guerreira valente e atuou ao lado de Zumbi na defesa do Quilombo. E na manutenção da cultura de matrizes africanas sendo uma das quilombolas coordenadora da defesa dos diversos mocambos.Na última invasão ao Quilombo de Palmares para não retornar à condição de escrava suicidou-se em seis de fevereiro de 1694, jogando-se da pedreira mais alta.


FRANCISCA TRINDADE:

Uma chuva fina caía sobre Teresina, na manhã de segunda-feira, 31 de março de 2008. Não era uma manhã qualquer. O cenário era a Praça da Liberdade, palco de tantas manifestações políticas e onde, mesmo diante da chuva persistente, reuniram-se significativas representações políticas e sociais do meu Estado. O motivo? Fazer uma homenagem, através de uma estátua de bronze, à piauiense Francisca Trindade. Nascida na periferia de Teresina, nos movimentos de jovens já manifestava consciência crítica. Trilhou admirável caminho assumindo-se mulher, identificando-se como negra, posicionando-se como militante dos movimentos sociais e ousando enveredar pela política partidária, tornar-se vereadora, deputada estadual e a mais bem votada deputada federal da história do Piauí – trajetória intensa que durou quase toda a sua existência, até que, em pleno discurso, foi vítima de um aneurisma cerebral em 27 de julho de 2003, com 37 anos. Naquela manhã de segunda-feira –– aí está o inusitado ––, mais do que a instalação de uma estátua, pela primeira vez no Piauí é homenageada dessa forma uma mulher nascida do povo negro, testemunhando os novos rumos da história e imprimindo um marco da democracia no 31 de março, um contraponto a ditadura institucionalizada em 1964. Trindade é reconhecida como defensora incansável dos direitos humanos dos oprimidos, excluídos, injustiçados e esquecidos, principalmente da comunidade negra. Enfrentou a violência do racismo e do machismo, desafiando uma burguesia que teimava em dizer que aquele não era o seu lugar. Ousou quebrar paradigmas, calar as dores aos inimigos e tantas vezes chorou com os amigos a dor de carregar na alma tantas Franciscas trabalhadoras deste país. A homenagem naquela praça e naquele dia, quando se completam 120 anos da Lei Áurea foi, para nós, povo negro, sinal de liberdade, mostra contundente de uma Abolição feita por nós e em construção permanente, até que os princípios da verdadeira Igualdade e da Paz governem o Brasil e o mundo.Ao relembrar essa história, sou tomada pela emoção e pelo orgulho de ter convivido com essa mulher tão negra quanto eu e as muitas, reconhecidas ou anônimas deste País, e me vem à mente a incalculável dívida social luso-brasileira para com o povo negro, contraída sob o olhar complacente da humanidade, surda aos clamores das senzalas e dos quilombos. Ocorre-me que tal dívida é agravada por todas as linhas não escritas em nossa história de mulheres negras, nós que carregamos na alma a força das ancestrais, aquelas que mantiveram a altivez diante das chicotadas, que tiveram a coragem de renunciar à vida para não viverem mortas; rebelar-se, fugir, pra não se entregar, e ter ainda a doçura de acalentar nos peitos fartos de leite aqueles que não eram seus filhos. São memórias que precisamos retomar todos os dias e noites, para valorizar cada conquista e fazer valer a luta pela liberdade, cidadania e respeito.Salve, guerreira Trindade, amiga de sempre e para sempre!Salve a força negra que, mesmo quando a alma sangra pela violência do racismo, nos mantém altivas e ousadas!

LÉLIA GONZALEZ (1935 - 1994)

Pioneira do recorte de gênero no Movimento Negro. Nasceu em 1º de fevereiro de 1935, em Minas Gerais, Filha do negro ferroviário Accacio Serafim d’ Almeida. e de Orcinda Serafim d’ Almeida Lélia de Almeida González era a penúltima de 18 irmãos. Com a mãe indígena que era doméstica recebeu as primeiras lições de independência. Mudou-se com a família em 1942 para o Rio de Janeiro acompanhando o irmão Jaime jogador de futebol do Flamengo.No Rio de Janeiro cidade que amava , seu primeiro emprego foi de babá .Não raro se se identificava como carioca sendo torcedora incondicional do Flamengo. Graduou em história e filosofia.exercendo a função de professora da rede pública e posteriormente concluiu o mestrado em comunicação social. Doutorou-se em antropologia política /social em São Paulo (SP) e dedicou-se as pesquisas sobre a temática de gênero e etnia. Professora universitária, lecionava Cultura Brasileira na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC - Rio, seu último cargo na instiuição foi de diretora do departamento de Sociologia e Política.Viúva de Luiz Carlos González enfrentou o preconceito por parte da família branca do marido.Através do candomblé e análises da psicanálise e da cultura brasileira assumiu sua condição de mulher e negra.Lélia se destacou pela importante participação que teve no Movimento Negro Unificado (MNU), do qual foi uma das fundadoras .Em 07/07/1978 em ato público oficializou a entidade em nível nacional.Para ela,o advento do MNU *’ consistiu no mais importante salto qualitativo nas lutas da comunidade brasileira na década de 70.”Ativista incansável como Membro da Executiva Nacional , militou também em diversas organizações, com o Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN) e o Coletivo de Mulheres Negras N’Zinga,da qual foi uma das fundaoras. Em Salvador-Bahia se fez presente na fundação do Olodum. Sua importante atuação em defesa da mulher negra valeu-lhe a indicação para membro do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM). Atuou no órgão de 1985 a 1989. Filiou-se ao Partido dos Trabalhadores (PT) e disputou vaga na Câmara Federal,em 1982,alcançando a primeira suplência.. Foi candidata a deputada federal em 1982.Em 1986, estava no Partido Democrático Trabalhista (PDT), por onde se candidatou como deputada estadual, conquistando a suplência. Nos últimos anos, estudava o que ela chamava “negros da diáspora”, cunhando o conceito de amefricanidade Escreveu Festas populares no Brasil,premiado na Feira de Frankfurt Lugar de negro, em co-autoria com Carlos Hasenbalg, duas teses de pós-graduação, além de diversos artigos para revistas científicas e obras coletivas. Faleceu vítima de problemas cardíacos no Rio de Janeiro no dia 10 julho de 1994. As reflexões de Lélia Gonzalez também se encontra contida em papers, comunicações, fala em seminários, panfletos político-sociais partidários entre outros em poder de parentes , amigas e religiosos que possuem a curadoria e direitos autorais de sua obra .
"Lélia exerceu um papel fundamental na criação e ampliação do movimento negro contemporâneo.Em termos pesoais,seu grande orgulho foi servir como “catalisadora” dos anseios de uma parcela da juventude negra de Salvador,Bahia,no final dos anos 70 .A partir de um ciclo de palestras que ela realizou na cidade,em maio de 1978,-Noventa anos de abolição: uma reflexão crítica-várias pessoas que já discutiam a questão do racismo formaram o Grupo Nêgo, a partir do qual surgiria o MNU-Bahia.Este fato revela o que,para mim,foi o traço mais característico de Lélia: acapacidade ímpar de nos instigar com a exuberância de sua fala a nos inspirar com a luminosidade de sua personalidade.Luiza Barros ( Extraído do Artigo Lembrando Lélia Gonzalez –Livro da saúde das Mulheres Negras organização de Jurema Werneck,Maísa mendonça,Evelyn C.White –Rio de Janeiro Ed.Pallas : Criola-2000- Pag. 43.


MARIA BRANDÃO DOS REIS

Nasceu em 22 de julho de 1900, numa cidade mineira localizada na Chapada Diamantina. O traço sob o último sobrenome era uma exigência sua.Militante política ativa, foi influenciada pela passagem da Coluna Prestes por sua cidade e, interessada nas atividades do Partido Comunista, mudou-se para Salvador, montou uma pensão na Baixa do Sapateiro, transformando-a no seu reduto de militância.Inteligente e solidária, fornecia livros e bolsas de estudos para os que queriam estudar, mesmo de outras ideologias que não a sua.Em 1947 organizou a vigília noturna e a passeata de protesto em apoio às moradoras do Bairro Corta Braço, ameaçadas de perder suas casas.Maria Brandão do Reis teve significativa atuação na "Campanha da Paz", organizada pelo PCB, em 1950. Obteve o prêmio de "Campeã da Paz", com direito a receber o prêmio em Moscou, mas o Partido substitui-a por um jovem intelectual. Dos Reis jamais perdoou o Partido por essa discriminação. Durante o golpe de 64 consegue escapar da prisão, fugindo para Brasília, mas quando volta, em 1965, é interrogada pela Polícia federal.Maria Brandão dos Rei faleceu em 1974.

MARIA FIRMINA DOS REISN

ascida em São Luís do Maranhão, é considerada por alguns autores como a primeira romancista brasileira.Aos 22 anos, Maria Firmina prestou concurso público para professora em Guimarães, onde passa a colaborar na imprensa local com poesias e contos. Seu livro "Úrsula", de 1859, pode ser considerado como o primeiro romance abolicionista escrito por uma mulher no Brasil. Fez da literatura um instrumento de denúncia da escravidão, mostrando o quanto sua existência era contraditória com a fé cristã professada pela sociedade.Procurou ressaltar a superioridade moral do negro que conseguia preservar sua humanidade e sentimentos elevados ainda que na condição degradante de escravo. É autora de um livro sobre 13 de maio e de vários folguedos. Aos 55 anos, antes de aposentar-se do Magistério Público, Firmina fundou em Guimarães uma escola mista e gratuita para crianças pobres.Embora solteira e pobre, adotou várias crianças e teve inúmeros afilhados.Em 1917, morreu anos 92 anos, na casa de uma amiga ex.- escrava.

RAINHA TERESA DO QUARITERÊ

Tereza do Quariterê e o Quilombo do Quariterê
Os primeiros africanos especialistas na extração do minérios chegam em Mato Grosso, no século XVIII, para trabalhar na mineração. No final do século XVIII,o quilombo do Piolho ou Quariterê, sob a liderança de José Piolho abrigava negros nascidos na África e no Brasil, índios e mestiços de negros e índios (cafuzos),que conviviam comunitariamente José Piolho, os habitantes do quilombo conviviam comunitariamente .O poder público, através da Câmara Municipal de Vila Bela da Santíssima Trindade, e os proprietários de escravos patrocinaram a primeira bandeira para destruir o quilombo e recapturar seus moradores.A bandeira contendo cerca de trinta homens e comandada por João Leme de Prado, percorreu um mês de Vila Bela até o quilombo, e, de surpresa, atacou-o, prendendo quase a totalidade dos moradores. Alguns morreram no combate que se travou, outros fugiram.Com a morte de José Piolho sua esposa Teresa sucedeu o comando e a resistência.O sistema político que Teresa implantou no Quilombo era composta de uma Rainha que se submetia a decisão de um conselho de representantes.As armas de seu exécito era conguidas mediante a troca de produtos produzidos pela comunidade ou das consquistas dos invasores derrotados.O sistema interno castigava com a pena de morte os quilombolas que porventura resolvessem abandonar a luta. A plantação de algodão era o principal produto de venda e troca. Os proprietário de fazendas e plantações e o governo de Vila Bela financiam uma nova investida contra o Quilombo do Quariterê Liderada pelo alferes Francisco Pedro de Melo, destruíram as edificações e plantações do quilombo. No combate o conselheiro militar de Tereza foi morto. e os trabalhadores sobreviventes. foram levados de volta para Vila Bela.
Ao ser conduzida pelos torturadores para VIla Bela , Teresa suicidou-se ingerindo uma poção de ervas .
Outros quilombos na região também foram destruídos, Francisco de Melo, destruiu também os quilombos de "João Félix" e o do "Mutuca".


Ruth de Souza

Participando de grandes montagens do teatro brasileiro, entre 1945 e 1999, Ruth de Souza iniciou sua carreira com um texto de Eugene O´Neil, Todos os Filhos de Deus têm Asas. Históricas montagens contaram com sua participação. Entre elas: Terras do Sem Fim, de Jorge Amado; Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, Orfeu da Conceição, de Vinícius de Moraes; Zumbi, de Guarnieri, Boal e Edu Lobo.Ruth de Souza sempre esteve ligada ao cinema nacional. Por seu desempenho no filme Ângela, com direção de Tom Payne, recebeu o prêmio de atriz coadjuvante, da Associação de Críticos Cinematográficos do Rio de Janeiro e da Associação de Críticos Cinematográficos de São Paulo. Em 1951, recebeu o prêmio Saci, por sua participação em Sinhá Moça que teve o mesmo diretor. Sua carreira inclui mais de trinta filmes. Entre eles, O Cabeleira, Bruma Seca, A Morte Comanda o Cangaço e O Assalto ao Trem Pagador.
Em 2001, filmou O Aleijadinho, premiada com o Kikito em As Filhas do Vento, com direção de Joelzito Araújo. Na televisão, Ruth trabalha desde 1965, quando estreou com A Deusa Vencida, na extinta TV Excelsior, e no ano seguinte já estava na TV Globo participando de inúmeras novelas, entre elas Mandala, Rainha da Sucata, Cara ou Coroa. O Clone entre outras. Vários foram também os seriados como Quarto de Despejo, Quero Meu Filho e Memorial de Maria Moura. Pela sua contribuição ao cenário artístico brasileiro, recebeu, em 1998, a Comenda do Grau de Oficial da Ordem do Rio Branco da República Federativa do Brasil.
Com cinco anos de carreira, Ruth ganhou bolsa da Rockfeller Foundation e foi estudar teatro nos Estados Unidos. “Dá para imaginar? Naquela época, o fato de uma jovem negra ir estudar no exterior foi notícia em todos os jornais”. Nos Estados Unidos estudou dramaturgia, sonoplastia, direção e ficou maravilhada com os artistas da Broadway.


Zeferina Escrava Quilombola -SEC. XIX

Zeferina liderou uma revolta de escravos ocorrida em 16 de dezembro de 1826 na cercanias de Salvador-
Essa revolta foi protagonizada pelos negros quilombolas de Urubu,um dos muitos quilombos localizados nos arredores da capital baiana.O grupo,composto de cerca de 50 pessoas,entre homens e mulheres,atacou sítios e casas da região. Zeferina liderou os companheiros com gritos de guerra ,causando admiração até em soldados inimigos. Armada,acabou sendo presa e,no interrogaório,disse à polícia que o levante estava previsto para acontecer na véspera do Natal,para que o grupo pudesse receber a adesão de escravos vindos de Salvador .m Contudo,um incidente acontecido quando os revoltosos se abasteciam num sítio vizinho precipitou a ação.Zeferina foi condenada a trabalhos forçados. Fontes Luiz Luna.O negro na luta contra a escravidão-Rev.Trabalhadora 1990-Dicionário Mulheres do Brasil organizado por Schuma Schumaher e Érico Vital Brasil Jorge Zahar Editor RJ 2a edição

RAINHA NZINGA


Nasceu no Ndongo Oriental (Angola Atual), em 1582. Foi embaixatriz em Luanda, durante o reinado do seu irmão e travou luta sem quartel durante trinta anos contra os portugueses, pela independência da sua gente e pela sobrevivência do seu reino.Com a morte do irmão torna-se a rainha de Ndongo e, para enfrentar os portugueses, forma uma tríplice aliança com o Rei do Congo e os holandeses.Tendo um compromisso total com a libertação de Angola, Nzinga foi durante toda a sua vida a personalidade mais importante desse país e é reverenciada como sendo uma das inspirações do nacionalismo angolano atual, não só pela resistência aos invasores, como pela sua habilidade diplomática e sua altivez.Um episódio revela bem essas qualidades: Quando se apresenta como embaixatriz em Luanda, o governador recebe-a numa sala onde havia apenas uma cadeira e uma almofada o governador oferece-lhe a almofada, o que Nzinga recusa por ofender a sua dignidade real e senta-se no corpo ajoelhado de um dos acompanhantes da sua corte, eliminando a posição de inferioridade que sutilmente lhe era oferecida pelo governador. Em seguida discutiu um acordo de respeito à soberania do seu reino, expressando- se na língua portuguesa com perfeição. O efeito dessas atitudes causou um impacto psicológico que a levou a conseguir uma vitória diplomática nessa ocasião.Sempre foi muito respeitada pela estratégia que empregava e que se aproximava da moderna guerrilha. Essa tática de luta influenciou diretamente os quilombos de Palmares, já que os negros Palmarinos eram foragidos dos estados de Pernambuco e Alagoas, região para onde foram trazidos os africanos de Angola.Nzinga morreu em 1663, mas no Nordeste brasileiro sua imagem sobrevive no folclore negro, especialmente nos congos e congadas, onde ela é a Rainha Jinga (Ginga).

WINNIE MANDELA

Nasceu em 26 de setembro de 1934, com o nome de Nomzamo Winifred Madikizeh, numa pequena aldeia de Transkei, África do Sul, filha de uma professora primária e de um funcionário público.Casada com o líder Nelson Mandela - preso desde 1962, por lutar contra o apartheid - desde a sua juventude ela participou das lutas pela cidadania plena e pelos direitos humanos de todos os sul africanos, sem distinção de cor. Desafiou, desde cedo, as leis, ao entrar pelas portas permitidas somente aos brancos e ao permanecer em filas proibidas aos "não brancos".Foi a primeira pessoa de cor negra a graduar-se como assistente social na África do Sul. Trabalhando num hospital, começou a atuar politicamente junto com a juventude do Congresso Nacional Africano e foi detida como presa política pela primeira vez em 1958. Envolveu-se profundamente na mobilização das mulheres sul-africanas a rebelar-se contra as leis segregacionistas do apartheid. Nos seus anos iniciais de luta política, conheceu um jovem advogado, Nelson Mandela, casando-se com ele. Participou de todas as lutas políticas e dos perigosos anos de clandestinidade, até que Nelson Mandela, líder do CNA (Congresso Nacional Africano) foi preso em 1962 e condenado à prisão perpétua.Desde 1958, no seu estilo típico, ela vivia ignorando as determinações das autoridades policiais e foi constantemente banida e permaneceu em prisão domiciliar. Numa das vezes, ficou presa numa solitária por muitos meses, numa tentativa das autoridades de enfraquecer sua determinação. Após sair da prisão em 1975, tornou-se parte da Liga das Mulheres do CNA, que teve papel importante nas lutas contra as leis do apartheid. Por ter-se envolvido no levante de Soweto em 1976, ficou presa durante meio ano e foi banida de Soweto para Brandfort, a 350kms de Joanesburgo, onde viveu por 9 anos. Lá foi por diversas vezes atacada em sua casa e ameaçada de morte. Nesse período Winnie estava proibida de participar de encontros públicos, reuniões, de ser citada publicamente e de sair de casa nos fins de semana. Como de costume, Winnie continuou ignorando as regras do banimento, deixando Brandfort para visitar Soweto- e toda a vez era presa. Por sua tenacidade e lealdade à causa do seu povo, ganhou o título de “Mãe da Nação”, não apenas por ser casada com um herói da luta sul-africana, mas pelos seus ataques destemidos ao governo do apartheid e pelas prisões e banimentos sem que ela em nenhum momento cedesse ao regime do apartheid. Ela formou um time de futebol que cuidava de sua segurança e que ficou associado a execuções de colaboradores negros do apartheid. Um dos seus guarda-costas foi condenado pela morte de um jovem de 14 anos, logo após a libertação de Nelson Mandela da prisão e de sua eleição para presidente da África do Sul. Mesmo após a separação de Mandela, Winnie Madikizeh continua sendo uma voz forte na política sul-africana, tendo sido reeleita diversas vezes para presidente da Liga das Mulheres do Congresso Nacional Africano.


Fonte:

O olhar da Mulher Negra : o resgate de Chica da SilvaPublicação Fundação Cultural Palmares 2000
Cartilha “Mulher Negra tem História” - Bibliografia utilizada:• Calendário "Mulheres Negras no Brasil"- Recuperando nossa HistóriaComissão de Mulheres Negras do CEFC, São Paulo, 1987.• Moura, Roberto - "Tia Ciata e a Pequena África no Rio de Janeiro"FUNARTE/RJ, 1983.• Santos, Deoscorédes M, dos - "Axé Opô Afonjá"Inst. Bras. De Estudos Afroasiáticos/RJ,1962.• Crescenti, Maria Thereza Caiuby - "Mulher e Libertação dos Escravos"Trabalho apresentado no III Simpósio de História do Vale do Paraíba, 1976, mimeo.• Verger, Pierre - "Os Orixás"- Ed. Corrupio, Círculo do Livro/SP, 1984.• Freitas, Décio - "Escravos e Senhores de Escravos"Ed. Mercado Aberto, P. Alegre/RS, 1983.• Montenegro, Ana - "Mulheres, Participação nas lutas populares"ML Gráf. Ed. Salvador/BA.• Jesus, Carolina Maria de - "Diário de Bitita"- Ed. Nova Fronteira, 1986.• Revista OAB - Anos X/XI e vols. 12/13, Set/Dez, de 1980, Jan/Abr, 1981, nº 27 e 28.• Calendário "Mulheres Brasileiras: Participação Política e Social" CECF/SP, 1986.• Paula, Rosângela - In Jornal do Conselho da Comunidade Negra,Abr/Mai, 1986/SP, artigo sobre Clementina de Jesus.• Barbosa, Marília, Carlos cachaça e Arthur L. Oliveira Fº"Fala Mangueira"- José Olímpio/ Ed. 1988

Mães Africanas

Grandes Mães ou divindades femininas no Continente Africanos, existem desde o princípio do mundo. Elas vieram de todos os horizontes e são eleitas estrelas guias de todos os lugares, onde são identificadas pelo seu direito e destino de serem Mães.A maioria das sociedades de linhagem da África pré-colonial era matrilinear.Isso significa, que esses agrupamentos humanos tinham as mulheres no poder. Quando um homem, de outra linhagem, pretendia desposar uma mulher desse tipo de linhagem, ele se mudava definitivamente para esta sociedade e passava a viver sob as regras desse novo grupo. A preferência era que o novo casal tivesse filhos do sexo feminino, a fim de fortalecer a linhagem.Assim sendo, o território era matrilocal, a sucessão era matrilinear e o poder era matriarcal. Os rituais de iniciação, de passagem e cerimônias outras, eram comandadas pelas mulheres – sacerdotisas, anciães, guardiãs dos conhecimentos e segredos. A essa transmissão de conhecimento, podemos nominar de educação.
Os valores recebidos de nossas mães negras está baseada na filosofia africana, que envolve a vida em todas as suas dimensões:
A Fé ,a maneira de se relacionar com o sobrenatural, com outras dimensões da existência humana e com a natureza.
A sabedoria dos ancestrais e dos antepassados.
A inteligência,para saber ler os acontecimentos e distinguir o bem e o mal.
A coragem ,para descobrir suas próprias potencialidades – suas competências, seus valores, sua dignidade sendo negro.
A força ,para enfrentar a vida cotidiana e ter confiança que a proteção dos Orixás, Inquinces, Voduns e Caboclos vai nos apoiar e nos orientar.
A segurança no relacionamento com as heranças dos nossos antepassados, dos nossos ancestrais, o que significa ter firmeza na prática e no cultivo de nossos princípios, nossos valores, nossas lições, nossas experiências.
Mães ancestrais e as Sociedades Femininas.
MAWU – Mãe de todos os Vodus
EZELI – Mãe de filhas guerreiras e filhos guerreiros Nzamê , Maberê, Kuabá – que reúnem-se para idealizar a figura masculina para lhes fazer campanhia.
Nassissim – os olhos da alma, o ponto brilhante do fundo do olho.
Bongué – cuja alma é Nassissim
Nyamê – o lado feminino da divindade Akan Wagadu – aquela que permanecerá viva. Os alaúdes do SAHES cantam para ela. Nzambi – entidade maior dos Bakongos
Nalunga – entidade maior dos Bassongas Na – Buku e Mawa – Lisa maedo povo fon Kilemdé – árvore da vida dos bantus Geledés – Sociedade secreta de mulheres do Reino Yorubá
Existem várias lendas e fatos históricos que podem muito bem ilustrar o poder das mulheres nas sociedades africanas. Uma delas é a que se refere a uma sociedade secreta de mulheres, onde homens não podiam entrar. Um grupo de homens, curiosos para saber o que acontecia naquelas reuniões, resolveu se vestir de mulher e, disfarçados, conseguiram entrar e descobrir o segredo. Era uma sociedade religiosa.
Seria por esse motivo que a maioria dos orixás masculinos da religião do Candomblé, vestem saia, como punição dada pelas mulheres daquela sociedade.
Temos muitas heranças da tradição africana onde cabe à mulher a direção de vários segmentos.
Desde o período pós-abolição (no Brasil), que as mulheres negras assumiram o posto de “cabeça do casal” e ainda hoje criam e educam seus filhos.
Um dos exemplos mais fortes dessa herança é o fato da existência esmagadora de yalorixás, em especial na Bahia.


Fonte Cadernos de Educação do Ylê Ayê.-Boletim Eparrei Online

PENSAMENTO

“Há um mistério profundo que se agita no íntimo do ser, da alma de cada espécie vivente. E as mulheres iluminam com seus olhos este mistério”.
(Gilka Machado)

Um mundo de mulheres de verdade

Ela queria viver num mundo onde as mulheres não fossem pedaços de carne e onde esses pedaços de carne não fossem vendidos nas ruas e nas bancas de revista. Ela queria viver num mundo onde as mais velhas não precisassem olhar com inveja para as mais novas. Ela queria viver num mundo onde nenhuma mulher precisasse temer a perda do desejo de seu amado com a chegada das rugas e dos cabelos brancos. Ela queria viver num mundo onde as mulheres fossem deusas, independente da circunferência de suas cinturas.
Mas no mundo em que ela vivia, mulheres mutilavam seus próprios genitais em nome da estética e chamavam isso de cirurgia íntima. No mundo em que ela vivia, as mulheres usavam seus corpos como instrumentos de poder e afronta, umas sempre tentando serem superiores às outras. Numa competição em que a pele mais lisa, o rosto mais angelical, a menor quantidade de anos vividos sempre saía vitoriosa e isso evoluía tristemente a ponto de gerar absurdos como homens adultos desejando meninas impúberes. Ela vivia num mundo em que garotas de 13 anos eram usadas para provocar os anseios de consumo das pessoas.
Ela queria viver num mundo diferente. Num mundo em que mulheres não fossem inimigas em potencial. Por isso começou a sorrir mais, sem medo de evidenciar as ruguinhas já existentes. Passou a retocar menos a maquiagem e a entrar correndo no mar com seus filhos, mesmo após ter feito uma escova. Decidiu nunca mais mentir ou esconder a idade, nem procurar defeitos minúsculos no corpo das outras mulheres e no seu próprio. Fez as pazes com o espelho e com todas as outras mulheres do mundo. Passou a gastar mais dinheiro com livros do que com tratamentos estéticos. Deixava sua filha subir em árvores, elogiava mais o talento para a matemática da menina do que seus lindos olhinhos azuis. Ela queria viver num mundo em que as TODAS as mulheres fossem deusas. Por isso resolveu começar pela sua casa.

Por Lucia Freitas, do blog http://ladybugbrazil.com/